segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Os livros do Marcello


Livros me lembram a Tia Penha Soe, lá da escola. Certo dia ela descobriu que eu me divertia muito mais na pequena biblioteca do São Judas, do que na quadra ou no pátio. Todo mês me presenteava com um dos livros da coleção Vaga Lume (ahhh...).Alguns bons anos se passaram, e assim como perdi contato com a Tia Penha, meu hábito de leitor acabou ficando um pouco esquecido. É. Aquela velha história da correria da vida moderna e blá, blá, blá. Tornei-me um fã dos e-books, pelo preço e pela comodidade, e das HQ’s pelo tempo. Participar do clube pode ser a chance de deixar a preguiça de lado, e dedicar mais momentos da minha vida fazendo orelhas nas páginas de algum bom livro, e se tudo correr bem, me fazendo praticar o desapego, afinal, desembolsar cento e poucos reais por uma edição especial de Moby Dick ou por uma coleção do Dostoievski, só amando muito a literatura.Se me permitem a metáfora, acho que livros são como grandes amigos. Pela vida você conhece vários, perde contato com alguns, mas os grandes, melhores, sempre estarão perto de você, mesmo sendo poucos. Assim é comigo. Adoraria ter uma grande biblioteca, mas acho que no fim seria apenas um Hopi Hari das traças. Compartilharei meu pequeno acervo (claro, torcendo que voltem algum dia. Bonitos, sem orelhas ou manchas de margarina).“O diário de um cucaracha”, de Henfil. Num cenário de repressão e censura militar, Henfil mostra seu humor mordaz e melancólico, no meio do imperialismo norte americano. Racismo, discriminação, perrengues de um cara que precisava ir ao hospital, sem falar uma palavra em inglês. E a não rendição ao deslumbre de uma suposta vida mais fácil. Moral interessante.O que dizer de um escritor que influenciou gente como Gandhi, Luther King e Leon Tolstoi? Henry Thoreau me foi apresentado por um grande amigo, vegan e ativista pela causa dos animais. “A Desobediência Civil” é seu livro de cabeceira, e sua justificativa ao direito de ser rebelde. “Quando o súdito nega obediência e quando o funcionário se recusa a aplicar as leis injustas ou simplesmente se demite, está consumada a Revolução”. E aí, vai encarar?De Oscar Wilde, o clássico “O retrato de Dorian Gray”, e “The importance of being earnest and other plays”. O primeiro, aquela história já conhecida sobre as coisas feias que fazemos e temos vergonha de encarar. Decadência moral e impossibilidades. O segundo, uma peça sobre a vida de aparências. Críticas atemporais.

Olha que legal. Tim Burton, sempre freak, resolve enveredar pelo universo infantil com um livrinho de contos fofos? Ounnnnnnn. Não exatamente. “O triste fim do Menino Ostra e outras histórias”, tem muito do lúgubre, tétrico e bizarro que permeia toda a sua obra. Personagens peculiares em universos desajustados de doçura e tragédia, buscando apenas compreensão e amor.

Antes de Dan Brown escarafunchar as cópias heliográficas e bolorentas dos pergaminhos antigos do Mar Morto pra escrever seu “Código”, mais gente já havia aparecido com idéias mirabolantes sobre coroas de espinho e pessoas tomando vinho reunidas numa mesa. “A ressurreição de Cristo” é a tentativa de OG Mandino de irritar o Cristianismo. Não foi tão bem sucedido como Brown, mas confesso que é uma leitura interessante.

Esqueça aquele mago com chapéu estampado com estrelas, óculos na ponta do nariz, de cara simpática e bonachão, em “Merlin, o filho do diabo” a parada é outra. O conselheiro do Rei Arthur é cria do capiroto, já nasceu falando e tocou o terror lá na antiga Bretanha. Ótica interessante e coerente da Maria Nazareth Alvim de Barros.

Como não poderia deixar de prestar essa homenagem, trago “A ilha perdida”, relíquia genuína da Maria José Dupré, lançada pela Coleção Vaga Lume. Primeiro livro que muita gente leu na vida. Babinha: dois moleques sem nada pra fazer resolvem deixar os pais de cabelo em pé (ou dar sossego pra eles, dependendo do ponto de vista). Descolam um barco e vão pra uma ilha. Lá, essa dupla muito louca vai aprontar altas confusões, no melhor estilo Sessão da Tarde de ser.

Por um sem número de razões, é de longe meu favorito: “O rei de Havana”, de Pedro Juan Gutierrez. O autor, que já foi de jornalista a cortador de cana, descortina desde “A trilogia suja de Havana” todas as suas impressões sobre a miséria humana e falta de perspectivas. Nojento, perturbador, escatológico, revoltante. Um primor.

Bem, deixarei ainda “A Divina Comédia”, do Alighieri, “Dom Quixote”, do Cervantes”, o top five de toda boa biblioteca “Cem anos de Solidão, do Gabriel Garcia Márquez, e “O evangelho segundo o filho”, de Norman Mailer. Caso se interessem, posso trazer também alguns exemplares daqueles livrinhos tipo “Júlia”, “Sabrina” e “Bianca”. Confesso que em um certo período de férias que nada mais tinha pra ler, eles salvaram minhas tardes chuvosas.

Boa leitura para todos.

Marcello Miranda

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