sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Os livros da Bartyra



Escreveu a mão e, provavelmente, com pressa. Arrancou do bloco de anotações a folha amarelada e deixou junto com os livros novos que agora habitam a Sala de Leitura do Clube. Quem ama livros vai gostar do pedaço da música que ela escolheu.

Muito Barulho por nada, William Shakespeare
O Buraco da agulha,Ken Follet
A Comédia Humana-Ilusões Perdidas, André de Balzac
A Comédia Humana -Ascensão e Queda de César Birotteau, André de Balzac
Um Camaleão sobre o muro-poemas, Marco Berger
Suíte Verde Jaspe-Contos, Marco Berger
Um certo capitão Rodrigo, Érico Veríssimo
Ficções do Interlúdio, Fernando Pessoa
50 poemas escolhidos pelo autor, Manuel Bandeira

Os livros do Júlio


Na estante: policiais, poesias, contos e realismo fantástico. Difícil é escolher tão poucos. O Caso Saint-Fiacre, de Georges Simenon - escolhi ao acaso, de fato, gosto de toda obra de Simenon; O Harlem é Escuro, de Chester Himes - um policial noir de primeira, Mulher no Escuro, de Dashiel Hammett - conto policial intrigante. Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques dispensa comentários, Fuja Logo e Demore Para Voltar, de Fred Vargas - policial contemporâneo francês, Uma Janela em Copacabana, de Luiz Alfredo Garcia-Rosa - um policial brasileiro.

Decameron, de Giovanni Boccaccio, obra que é, ao contrário do que a Globo tentou nos fazer crer, muito mais do que uma comédia do sexo. Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos, de Rubem Fonseca - queria ter escrito um livro com esse título, A Metamorfose, de Kafka - às vezes me sinto o próprio Gregor Samsa, Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto - denúncia e sensibilidade em poesia bem medida e pesada. Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa - também escolhido fortuitamente, adoro toda obra de Fernando Pessoa.

Júlio Pompeu

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Segundo encontro - 3 de outubro

O primeiro encontro do Clube ganhou adjetivos como excelente, estimulante, uma delícia. Portanto, o próximo já está agendado para 3 de outubro, às 17 horas, na Bauhaus. Dessa vez com parada para lanchinho.

E o livro também está decidido, Amor Líquido, do filóso polonês Zygmunt Bauman, que trata sobre a efemeridade das relações nesses tempos modernos. Laços froxuos, muita liberdade, pouco compromisso. Alguém se identificou?

A gente se encontra então no dia 3. Ah, tem um exemplar do livro no Clube, cedido pela Carol Scolforo. Mas lembre-se, se você for pegar emprestado, tome cuidado e devolva em bom estado.

Boa leitura.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Os livros do Marcello


Livros me lembram a Tia Penha Soe, lá da escola. Certo dia ela descobriu que eu me divertia muito mais na pequena biblioteca do São Judas, do que na quadra ou no pátio. Todo mês me presenteava com um dos livros da coleção Vaga Lume (ahhh...).Alguns bons anos se passaram, e assim como perdi contato com a Tia Penha, meu hábito de leitor acabou ficando um pouco esquecido. É. Aquela velha história da correria da vida moderna e blá, blá, blá. Tornei-me um fã dos e-books, pelo preço e pela comodidade, e das HQ’s pelo tempo. Participar do clube pode ser a chance de deixar a preguiça de lado, e dedicar mais momentos da minha vida fazendo orelhas nas páginas de algum bom livro, e se tudo correr bem, me fazendo praticar o desapego, afinal, desembolsar cento e poucos reais por uma edição especial de Moby Dick ou por uma coleção do Dostoievski, só amando muito a literatura.Se me permitem a metáfora, acho que livros são como grandes amigos. Pela vida você conhece vários, perde contato com alguns, mas os grandes, melhores, sempre estarão perto de você, mesmo sendo poucos. Assim é comigo. Adoraria ter uma grande biblioteca, mas acho que no fim seria apenas um Hopi Hari das traças. Compartilharei meu pequeno acervo (claro, torcendo que voltem algum dia. Bonitos, sem orelhas ou manchas de margarina).“O diário de um cucaracha”, de Henfil. Num cenário de repressão e censura militar, Henfil mostra seu humor mordaz e melancólico, no meio do imperialismo norte americano. Racismo, discriminação, perrengues de um cara que precisava ir ao hospital, sem falar uma palavra em inglês. E a não rendição ao deslumbre de uma suposta vida mais fácil. Moral interessante.O que dizer de um escritor que influenciou gente como Gandhi, Luther King e Leon Tolstoi? Henry Thoreau me foi apresentado por um grande amigo, vegan e ativista pela causa dos animais. “A Desobediência Civil” é seu livro de cabeceira, e sua justificativa ao direito de ser rebelde. “Quando o súdito nega obediência e quando o funcionário se recusa a aplicar as leis injustas ou simplesmente se demite, está consumada a Revolução”. E aí, vai encarar?De Oscar Wilde, o clássico “O retrato de Dorian Gray”, e “The importance of being earnest and other plays”. O primeiro, aquela história já conhecida sobre as coisas feias que fazemos e temos vergonha de encarar. Decadência moral e impossibilidades. O segundo, uma peça sobre a vida de aparências. Críticas atemporais.

Olha que legal. Tim Burton, sempre freak, resolve enveredar pelo universo infantil com um livrinho de contos fofos? Ounnnnnnn. Não exatamente. “O triste fim do Menino Ostra e outras histórias”, tem muito do lúgubre, tétrico e bizarro que permeia toda a sua obra. Personagens peculiares em universos desajustados de doçura e tragédia, buscando apenas compreensão e amor.

Antes de Dan Brown escarafunchar as cópias heliográficas e bolorentas dos pergaminhos antigos do Mar Morto pra escrever seu “Código”, mais gente já havia aparecido com idéias mirabolantes sobre coroas de espinho e pessoas tomando vinho reunidas numa mesa. “A ressurreição de Cristo” é a tentativa de OG Mandino de irritar o Cristianismo. Não foi tão bem sucedido como Brown, mas confesso que é uma leitura interessante.

Esqueça aquele mago com chapéu estampado com estrelas, óculos na ponta do nariz, de cara simpática e bonachão, em “Merlin, o filho do diabo” a parada é outra. O conselheiro do Rei Arthur é cria do capiroto, já nasceu falando e tocou o terror lá na antiga Bretanha. Ótica interessante e coerente da Maria Nazareth Alvim de Barros.

Como não poderia deixar de prestar essa homenagem, trago “A ilha perdida”, relíquia genuína da Maria José Dupré, lançada pela Coleção Vaga Lume. Primeiro livro que muita gente leu na vida. Babinha: dois moleques sem nada pra fazer resolvem deixar os pais de cabelo em pé (ou dar sossego pra eles, dependendo do ponto de vista). Descolam um barco e vão pra uma ilha. Lá, essa dupla muito louca vai aprontar altas confusões, no melhor estilo Sessão da Tarde de ser.

Por um sem número de razões, é de longe meu favorito: “O rei de Havana”, de Pedro Juan Gutierrez. O autor, que já foi de jornalista a cortador de cana, descortina desde “A trilogia suja de Havana” todas as suas impressões sobre a miséria humana e falta de perspectivas. Nojento, perturbador, escatológico, revoltante. Um primor.

Bem, deixarei ainda “A Divina Comédia”, do Alighieri, “Dom Quixote”, do Cervantes”, o top five de toda boa biblioteca “Cem anos de Solidão, do Gabriel Garcia Márquez, e “O evangelho segundo o filho”, de Norman Mailer. Caso se interessem, posso trazer também alguns exemplares daqueles livrinhos tipo “Júlia”, “Sabrina” e “Bianca”. Confesso que em um certo período de férias que nada mais tinha pra ler, eles salvaram minhas tardes chuvosas.

Boa leitura para todos.

Marcello Miranda

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Os livros do Gilson


As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino
Volta e meia retorno a este livro. Cada cidade é um mistério tremendo e não me canso de percorrer cada uma delas. Mas chegou a hora de mais uns lerem este livro infinito. Acho até melhor, usar este volume como appetizer, comprar seu próprio volume e coloca-lo na cabeceira, para eterna leitura.

Dom Casmurro, de Machado de Assis
Minha aventura com este livro começou lá pelo meus dezesseis anos. Não dá para não ler ele, e reler, e reler. Que obra absolutamente prima do cinismo! Segundo penso, é dos melhores livros do mundo.

Reinações de Narizinho
Voltei à obra infantil de Monteiro Lobato depois de me revoltar com três dos livros de Harry Potter. Basta ler e comparar.

A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa
É um fantástico épico. Ver Matraga crescer é uma experiência pela qual todos tem que passar. Guimarães Rosa não poupa o leitor e nos arrasta para dentro do seu herói, sem dó nem piedade. Saí deste livro, várias vezes, de alma lavada. Se um ser humano pode ser assim, então vale a pena ser deste planeta, deste país, até.

As Eruditas, de Molière (Trad. de Millôr Fernandes)
Nos dias de hoje, em que a cultura vem sendo usada como adorno social, nada melhor que ler esta peça. Melhor ainda, Millôr Fernandes é um grande tradutor e entende de dramaturgia também. De qualquer maneira, são tão poucos aqueles que leem peças, que julguei que deveria incluir algumas peças na minha oferta. Preparem-se para gostar—e reconhecer na peça certos tipos da nossa cultura local.

À Margem da Vida, de Tennessee Williams
Uma perfeita construção de uma peça. Muitas de suas estratégias dramáticas foram consideradas inovadoras na época em que ela estreou. É muito poética e ainda nos toca profundamente. Amanda, a personagem central, é uma criação fantástica que nos envolve totalmente e de quem queremos nos livrar o tempo todo. Bom demais!

A Exceção e a Regra, de Bertolt Brecht
Brecht optou por viver sempre por trás da Cortina de Ferro, o que tornou sua vida um inferno. O partido comunista não o olhava de forma alguma como um parceiro. No entanto, sua fama o protegeu de represálias. Esta peça mostra a razão do desconforto dos socialistas: e se o povo oprimido for responsável por sua própria opressão? Para muitos, ainda hoje, este tipo de pergunta—apenas uma pergunta—cria mal estar... Leiam com atenção, pois o final é difícil de aceitar a menos que toda a argumentação seja cuidadosamente acompanhada. Não encarem o problema da peça maniqueisticamente, ou terão perdido o sentido dela. Brecht não é fácil como aparenta ser.

Conta de Mentiroso (Sete Ensaios de Antropologia Brasileira), de Roberto DaMatta
Coisas surpreendentes começam a surgir aqui e ali à proporção que a gente avança pelo livro a dentro: a cultura brasileira vista com senso de humor e profundidade a partir de alguns “sintomas” reincidentes. É meio atordoante para a gente ser desnudado aqui e ali.
E nem é preciso concordar com DaMatta. Mas começamos a desconfiar da tão celebrada descrição do brasileiro como homem cordato.

Shakespeare: A Invenção do Humano, de Harold Bloom
Bem, leiam a introdução, antes de mais nada. O livro é um enorme tijolo em que Bloom examina cada peça de Shakespeare para demonstrar que o padrão ocidental do ser humano nos foi dado pelo bardo. Freud veio depois para sistematizar tudo, mas Bloom defende com unhas e dentes ou, através de análises brilhantes das peças, que o que somos, como somos e aspiramos existencialmente, foi invenção de Shakespeare.

Fedro, de Platão
Inicialmente, selecionei este livro porque faria um interessante par com As Eruditas—procurem minhas outras razões. Mas depois fiquei a matutar sobre a educação nos dias de hoje e o discurso pentecostal que nos assalta por toda parte e achei que está na hora de todo mundo fazer uma séria leitura deste livro que, nesta altura, não é só sobre o verdadeiro amante.

Gilson Sarmento

Ilustração de Maurício Nunes

Os livros do Bruno

Quando fui convidado para fazer parte deste seleto clube de leitores, fiquei me perguntando se eu realmente merecia estar aqui. É que nunca me considerei um grande leitor – muito mais por falta de tempo do que de gosto, já que sou fã de livros desde muito pequeno. Mas o mundo moderno, a música, o cinema e a chegada da internet acabaram por me roubar bastante do costume de ler, há alguns anos. De uns tempos pra cá resolvi deixar essa minha falha no passado e comecei a me dedicar mais aos encantos da literatura.

Ainda assim, mesmo sabendo que estou lendo mais do que jamais li, me considero um aprendiz. Tenho hábitos esquisitos (só leio ouvindo música, mas ela não pode ser em português, senão me embolo), sou lento na leitura (vou e volto em pontos do livro como se rebobinasse e adiantasse uma fita, mas não me envergonho disso) e escolho o que me dá na telha (sempre tentando suprir o peso na consciência de não ter lido os clássicos mais clássicos e nem as novidades mais novas, vivo no dilema do “qual vai ser o próximo que vou ler?”).

Por ser esse tipinho de leitor errante e mal acabado, escolhi assumir a carapuça e mostrar um pouco da minha biblioteca (humilde, muito humilde mesmo) por aqui. Confesso que não trouxe meus livros prediletos, mas amostras dos autores que mais gostei de ler ou de estilos de leitura que curto, que tenho o hábito de ler. Por exemplo, sou apaixonado por Gabriel Garcia Márquez, e ainda mais por Cem Anos de Solidão – o livro que eu levaria pra uma ilha deserta. Mas não trouxe pra cá a história dos Buendía, escolhi “Memórias de Minhas Putas Tristes”, que também admiro, mas acaba ficando de fora do meu Top 5.

De qualquer forma, é possível entender quem são os variados e ligeiramente destrambelhados habitantes da minha estante do quarto. Fica fácil perceber que gosto de ler sobre música quando se vê ali o livro de Dodô Azevedo, ou o “31 Canções”, do Nick Hornby (mas “Alta Fidelidade”, outro que figuraria fácil na minha bagagem de mão rumo à ilha de Lost, não veio. Eu nem o tenho, pra ser sincero, peguei emprestado, amei o que li, mas nunca comprei. Trouxe, pra reparar um pouco esse vacilo, o “Uma Longa Queda”, outro bem bacana do escritor pop inglês). Também fica na cara minha paixão por contos e crônicas com a presença de “A Vida Como Ela É...” de Nelson Rodrigues, ou os exemplares do Veríssimo, do Woody Allen (que tenho lido muito nos últimos meses) e do meu conterrâneo Rubem Braga. Se você prestar um pouquinho mais de atenção vai reparar que gosto de escrever, e por isso trouxe o ótimo “Os Segredos da Ficção”, do Raimundo Carrero, que é quase um livro técnico, mas é bem bom de ler e traz verdadeiras aulas de escrita ficcional.

Minha lista ainda traz uns clássicos (pelo menos pra mim, eles o são): “A Sangue Frio”, a inesquecível obra-prima de Truman Capote, e o intrincado “A Paixão Segundo G.H.”, da mais inspiradora escritora deste universo, Clarice Lispector. Ah, tem também o João Ubaldo Ribeiro, o Drummond e o Fernando Sabino, dos quais sou devoto eterno. O loucaço Chuck Palahniuk, mestre da arte de nos fazer engasgar com suas palavras cor de carne viva, fecha a minha lista pela simples impossibilidade de ficar de fora o cara que escreveu “Clube da Luta” - mas, como eu sou assim, meio errado, a obra “No Sufoco” é a que se faz presente.

Se este clube fosse da minha área original, a publicidade, diria que a minha lista é praticamente um teaser das minhas verdadeiras preferências. Mas, como quero deixar a publicidade um pouco longe disso, vai com fé que os livros são bons e também moram no meu coração. É só ter um pouco de cuidado com eles. Sabe como é, são todos filhos únicos de um pai solteiro.

Vejo vocês na sala de leitura.

Bruno Reis